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domingo, 28 de setembro de 2008

Educação Teológica e Missões

Alfrêdo Oliveira Silva[1]

Uma frase é repetida no período das campanhas missionárias: “Missões está no coração de Deus”. Diante desta verdade espera-se que Missões esteja no coração do povo de Deus, e não apenas no discurso. Para que isso ocorra Missões deve ser prioridade na agenda não somente denominacional, mas, sobretudo, nas igrejas locais, o que depende do conhecimento e envolvimento missionário da liderança das igrejas.

A visão de uma igreja, e da sua liderança, depende, e muito, do seu Pastor. Precisamente neste ponto que Educação Teológica e Missões se relacionam de forma decisiva. Os avanços e retrocessos de uma denominação, e das igrejas que a compõem, estão relacionados à capacidade de interação entre o conhecimento e a reflexão produzidos pela Educação Teológica e as igrejas. Os seminários, e faculdades teológicas, têm um papel decisivo que não pode ser esquecido.

Faculdades teológicas, e Seminários, devem suprir as igrejas de conhecimento sólido e desafiador, a começar do preparo oferecido regularmente aos futuros Pastores e Missionários, passando pela atualização dos que estão no campo sem oportunidade de capacitação, e ainda pelo treinamento de lideranças comprometidas com o trabalho missionário, através de cursos de pequena duração.

É preciso que seminários, e faculdades teológicas, contemplem algumas áreas no preparo do vocacionado, e da vocacionada, entre elas menciona-se:

Área Bíblica – é preciso não apenas conhecer a fundamentação bíblica para a tarefa missionária, mas, refletir teologicamente sobre as implicações missiológicas do livro sagrado, e o quanto essas implicações atingem a Igreja. A Bíblia é uma coleção de livros essencialmente missionária, e a teologia bíblica não pode ser reduzida a uma leitura ideológica, deste ou daquele matiz.

Área Histórica – o conhecimento da história do cristianismo em geral, e dos batistas em particular, deve despertar a aluna, e o aluno para uma construção ministerial que leve em conta as raízes denominacionais, conhecendo os acertos e desacertos produzidos ao longo da caminhada histórica. O estudo da história, sobretudo das missões, deve ser um desafio a uma ação no tempo presente que seja fiel à Bíblia, e aos seus princípios, e não apenas uma reprodução dos modelos vigentes, ou um estudo acrítico de datas e eventos.

Área Cultural – em um país com as dimensões territoriais do Brasil, e sua multiculturalidade, o estudo das culturas não é uma necessidade apenas para o vocacionado para missões internacionais. Fazer missões no Brasil é, muitas vezes, uma tarefa transcultural, e como tal deve ser estudada e tratada. O Brasil tem muitas faces: litorânea na faixa leste, sertaneja do nordeste, gaúcha dos pampas do sul, ribeirinha dos rios da Amazônia, cerrado do centro oeste, e das várias microrregiões. As Missionárias, e Missionários, bem como Ministros em geral, precisam ser preparados para lidar com a diversidade cultural, comunicando o Evangelho transculturalmente sem abrir mão dos eternos e imutáveis valores da Palavra de Deus. O Brasil é um país multicultural, e as obreiras e obreiros não podem limitar-se a formação monocultural e etnocêntrica, é preciso conhecer os muitos brasis.

Área Estratégica – o preparo teológico não pode prescindir da formação de uma visão estratégica que inclua: análise das diversas eclesiologias, métodos de plantação de igrejas, instrumentos de análise de crescimento de igreja, revitalização de igrejas, atuação e proposta das agências missionárias, bem como dos desafios missionários da atualidade, e como alcançá-los. É fundamental que faculdades teológicas, e seminários, estudem esses temas e criem programas de mentoreamento e acompanhamento da prática ministerial das suas alunas e alunos, e que esse acompanhamento integre instituição de ensino com a igreja local e as agências missionárias. O estágio é parte importante da matriz curricular.

A Educação Teológica que inclua a ênfase missionária cumpre sua vocação de preparar homens e mulheres para servir a Deus de forma contextualizada. Esse envolvimento dar-se-á de várias maneiras, entre elas:

(1) A inserção de matérias missiológicas, ministradas por professores que tenham visão e prática missionária. Em minha formação fui profundamente influenciado por Professores e Professoras que amavam e viviam Missões. É preciso atentar para os desafios missionários que estão diante de nós, e perceber se as instituições de preparo teológico estão capacitando seus alunos e alunas a superarem esses desafios.

(2) O envolvimento das instituições teológicas com atividades missionárias, inclusive através de convênios com agências, possibilitando intercâmbio de professores, viagens missionárias, e a identificação de oportunidades de missão na localidade em que a instituição está inserida. Em minha experiência docente alguns dos momentos marcantes ocorreram quando conduzia alunos ao Presídio Aníbal Bruno, o maior do estado de Pernambuco, ou evangelizava em comunidades como a do Coque no Recife.

(3) A prática de um trabalho interdisciplinar entre as matérias existentes e a missiologia. Um preparo teológico contextualizado, e conectado com o ideal missionário, deve atentar para os avanços e tendências da reflexão missiológica.

A Educação Teológica precisa acontecer em um contexto de reflexão e prática sob pena de tornar-se alienada da igreja, do mundo e da sua missão.

Soli Deo Gloriæ!

[1] O Pastor Alfrêdo Oliveira Silva é Bacharel e Mestre em Teologia (especialização em Novo Testamento), Professor do STBNB – Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, e da AMESPE – Academia Memorial de Ensino Superior de Pernambuco, membro da APMB – Associação dos Professores de Missões do Brasil e da Igreja Batista da Capunga, Recife-PE, Brasil. E-mail: alfredo.oliveiras@gmail.com Blog: http://alfredooliveiras.blogspot.com/