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terça-feira, 17 de junho de 2008

O Desafio da Acolhida

Pastor Alfrêdo Oliveira Silva

Certa vez Jesus Cristo afirmou: Qualquer que receber um destes meninos em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, recebe, não a mim, mas ao que me enviou. (Marcos 9.37) .

Considerando que crianças, mulheres e escravos, não tinham posição privilegiada na sociedade palestinense, e que Jesus se coloca na figura da criança, este texto é um convite a uma reflexão e prática em vários conceitos como: valor da criança, inclusão, encarnação, entre outros.

Todos gostam de ser bem recebidos, bem vindos, mas nem todos conseguem desenvolver e exercitar o dom da acolhida, isto é, receber bem, e fazer com que o outro se sinta bem, e à vontade.

Na adolescência, ser parte da turma é prioridade, e o adolescente faz o que estiver ao seu alcance, e um pouco mais, para ser acolhido pelo grupo. Nas outras fases da vida, a aceitação e o acolhimento são desejáveis e necessários à vida comunitária.

Como discípulos de Jesus Cristo O Desafio da Acolhida está constantemente diante de nós, e em cada circunstância da vida em que nos encontramos com outros seres humanos.

O Desafio da Acolhida começa na convivência familiar, onde experimentamos primeiro ser acolhido e o acolher, e alcança todas as esferas da vida.

Pensemos nas vezes em que as igrejas se reúnem... Há comunidades que se habituaram a listar e nomear aqueles que as visitam, outras comunidades convidam os membros a apertar a mão, dar um abraço, dizer uma palavra de boas vindas, enfim saudar os visitantes de alguma forma.

Acolher é muito mais do que um momento de saudação, seja esse momento formal ou informal. Acolher é uma arte, uma atitude que cada pessoa toma diante do outro. Encarar O Desafio da Acolhida é ver em cada pessoa a imagem do nosso Senhor Jesus Cristo, e com ela buscar o estabelecimento de uma relação de amizade justa e sincera que dignifique a pessoa humana.

Na vida comunitária, destacando-se a Igreja, O Desafio da Acolhida começa antes, e vai além, do momento de boas vindas. A acolhida começa, no abrir mão “daquela” vaga no estacionamento, para que o outro estacione; na saudação (Bom dia! Boa tarde! Boa noite!) dita de forma espontânea e sincera na primeira vez em que encontramos o outro, e não somente obedecendo a um comando mecânico de um “animador de auditório” em um tempo previamente estabelecido da programação. A acolhida continua mesmo depois do momento de boas vindas, quando o outro precisa acompanhar os momentos do culto no boletim, ou a leitura do texto bíblico, ou ainda quando não entende o que se passa na liturgia, e é ajudado por quem está por perto.

O Desafio da Acolhida precisa se percebido e encarado por cada cristão, e cristã, em todo o tempo, e em todos os momentos. À medida que acolhermos o outro em nosso dia-a-dia, acolheremos melhor em nossas igrejas, e não será necessário um momento apenas para dizer que o outro é bem vindo, o outro será bem vindo na hora que chegar, e desde a chegada até a saída será acolhido. Afinal, disse Jesus Qualquer que receber um destes meninos em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, recebe, não a mim, mas ao que me enviou. (Marcos 9.37).

Soli Deo Gloriæ!

O Pastor Alfrêdo Oliveira Silva é Professor do STBNB, da AMESPE, e membro Igreja Batista da Capunga, Recife-PE, Brasil. E-mail: alfredo.oliveiras@gmail.com

http://www.biblias.com.br/leiturabiblica.php?acao=ler&liv=Mar&cap=9 acessado em 29 Mai. 2008 às 14h36.

Ares de Um Novo Tempo

Alfrêdo Oliveira Silva[1]

Vejo ares de um novo tempo, prenúncio de vida em uma instituição que deve lapidar vidas, novos ares na mais antiga instituição teológica da América Latina. O semestre está começando[2] no STBNB – Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil.

Ares de um novo tempo. O Pastor Fernando Brandão, Diretor Executivo da Junta de Missões Nacionais da CBB, visitou a comunidade seminarial, e com seu jeito dinâmico desafiou-nos a um maior envolvimento com a obra missionária. Além de reunir-se com os líderes da CBPE, OPBB, SEC, Ministério Muda Sertão, e lideranças de algumas igrejas, o Pastor Fernando dedicou especial atenção ao Seminário do Norte.

Na manhã do dia 13 de fevereiro o Pastor Fernando pregou no culto das 9h30 em uma Sala Dickson lotada, com um auditório atento e tocado pelos desafios apresentados. Foi um culto memorável com a presença de professores, alunos, funcionários e visitantes.

Após o culto, e várias conversas com irmãos e irmãs que o procuravam, o Pastor Fernando reuniu-se na sala 58 com 22 seminaristas a maioria participante do Projeto Tymchak, mais o Pastores: Alfrêdo Oliveira (Professor de Missões no STBNB) Glen Clayton (Missionário inglês), Cirino Refosco (Missionário-Coordenador da JMN). Nesta reunião o Pastor Fernando falou de forma pessoal aos presentes, respondeu perguntas, ouviu as dúvidas, anseios e convicções dos seminaristas. Foi um momento histórico e marcante, quando pessoas chamadas por Deus, algumas delas no seu primeiro semestre de estudos, tiveram oportunidade de interagir diretamente com o Diretor Executivo de Missões Nacionais, conhecê-lo e sentir o seu amor pelo Senhor e por Missões. Foi uma reunião de quase duas horas que deixou marcas profundas em todos, e sinalizou o sopro de ares de um novo tempo para o STBNB, para a JMN, e para a Denominação Batista Brasileira.

Ares de um novo tempo. No dia 14 de fevereiro de 2008, pela manhã o Pastor Fernando falou aos professores e professoras do STBNB. Entre os presentes estavam o Dr. Merval Rosa e o Dr Roberto Schuler, o primeiro finalizando décadas de dedicação ao ensino teológico que culminaria com a passagem do cargo à noite, o segundo, chegando da Suíça para assumir a Direção Geral do STBNB trazendo consigo a expectativa de um novo tempo. Foi uma reunião emocionante com homenagem ao Dr. Merval, e com a palavra firme e desafiadora do Diretor de Missões Nacionais.

Ares de um novo tempo. No dia 14 de fevereiro de 2008, no santuário da Igreja Batista da Capunga, tomou posse na Direção Geral do STBNB o Pastor Dr. Roberto Schuler. Um evento marcante sob vários pontos de vista. Espiritualmente fomos enlevados pelas músicas congregacionais, e apresentação do Coro da Capunga, sob a regência do Prof. Apolônio Ataíde, Ministro de Música da Igreja e Coordenador do Curso de Música do STBNB. O Pastor Eli Fernandes de Oliveira, ex-aluno da casa e 2º Vice-Presidente da CBB, trouxe um sermão firme, atual e desafiador. A denominação esteve muito bem representada, através de líderes nacionais e estaduais, que usaram da palavra demonstrando que estamos em um novo tempo, em que o STBNB, as Convenções (CBB e CBPE) e instituições denominacionais devem caminhar juntos na construção do Reino de Deus e de uma denominação Missionária. Um momento histórico!

Ares de um novo tempo. No dia 20 de fevereiro de 2008, às 9h30 a sala Dickson estava lotada, e mais uma vez, a ênfase era missionária. O Pr. João Batista Januário, Secretário Geral da CBPE – Convenção Batista de Pernambuco, acompanhado do Pr. Edvan Tavares Coordenador da CEVAN, da Prof. Ábia Saldanha Diretora do SEC, e de outros líderes da denominação fizeram o lançamento do Projeto Seminarista-Missionário, a idéia é que seminaristas, com equipes apoiadas por evangelistas plantarão novas igrejas. Esse projeto será viabilizado pela parceria formada pelo STBNB, Seminário de Educação Cristã, Convenção Batista de Pernambuco, Junta de Missões Nacionais, Missão IDE e International Mission Board, os representantes de cada uma das instituições envolvidas na parceria estavem presentes. Esse projeto contribuirá para que o arrojado alvo de plantação de cinco mil igrejas proposto pela JMN seja alcançado.

Ares de um novo tempo. Os eventos acima relatados demonstram que respiramos novos ares no STBNB, estamos convictos de que esses ares podem mover-nos para mais perto de Deus, das Igrejas, da Denominação, e do povo brasileiro. Assim cumpriremos nossa vocação de servir a Deus, à igreja e à sociedade.

Soli Deo Gloriæ!

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[1] O Pastor Alfrêdo Oliveira Silva é Bacharel e Mestre em Teologia (especialização em Novo Testamento), Professor do STBNB – Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, e da AMESPE – Academia Memorial de Ensino Superior de Pernambuco, membro da APMB – Associação dos Professores de Missões do Brasil e da Igreja Batista da Capunga, Recife-PE, Brasil. E-mail: alfredo.oliveiras@gmail.com

[2] Primeiro semestre de 2008

Um Ano Depois...

Há um ano atrás Deus convocava à sua presença o Pastor Waldemiro Tymchak, e nós ficávamos mais pobres, enquanto os céus celebravam a chegada de um dos Generais mais valorosos das Missões no século XX e início de XXI, verdadeiro Apóstolo (enviado) Batista.

Um ano se passou, já faz tanto tempo, parece que foi ontem. Ele não está mais conosco, mais seu Ministério e exemplo ainda nos fazem identificá-lo com aqueles que depois de mortos ainda falam.

Pastor Tymchak deixou-nos um legado que não pode ser esquecido, o desafio de obedecer ao Senhor, evangelizando o mundo com todas as nossas forças e recursos, usando todos os meios possíveis para que o nome de Jesus Cristo seja glorificado e que cada pessoa no mundo tenha a oportunidade de ouvir o Evangelho.

Fraterno abraço,

Alfrêdo

Divulgue a comunidade Pastor Waldemiro Tymchak:

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=31206101&refresh=1

Cuja descrição segue abaixo:

“Tendo, pois, servido ao propósito de Deus em sua geração, Waldemiro Tymchak (1937-2007), juntou-se àqueles cuja geração dedicou a vida a salvar, até que volte, com o corpo regenerado, junto com Aquele que deu sua vida para salvar a todas as gerações”. (Texto da placa que será colocada na sepultura do Pastor Tymchak)


Homenagem ao Pastor Waldemiro Tymchak,
(*15.10.1937 +20.04.2007)

Diretor Executivo da Junta de Missões Mundias da CBB
de 13 Jul. 1979 a 20 Abr. 2007

Visite o blog: http://tymchak.zoomblog.com/

Visite o portal: www.jmm.org.br

Deus chamou para si um dos seus Generais mais preciosos.

Waldemiro Tymchak, um servo do Deus Altíssimo.

Alegria - Onde Está a Sua?

Pr. Alfrêdo Oliveira[*]

No período carnavalesco, fala-se muito em alegria. Propagam-se lugares e programações onde supostamente a alegria pode ser encontrada e muitas pessoas saem em busca dela, que se revela passageira e muitas vezes enganosa.

Por outro lado, grupos expressivos de cristãos se reúnem em acampamentos e retiros espirituais, onde experimentam uma vivência comunitária. Uns trabalham, outros estão enfermos, alguns aproveitam para freqüentar uma igreja mais próxima de casa, ou simplesmente fogem da agitação da cidade refugiando-se em casas de familiares, na praia ou no campo. Ainda há aqueles que preferem o famoso “acampadentro” (fazer uma programação dentro de sua casa, como assistir a uma seleção de filmes, por exemplo).

No período carnavalesco o que ocorre não é somente uma busca de “alegria”, mas, sobretudo, uma época de fugas. As pessoas fogem de si mesmas ao esconderem-se atrás de máscaras e fantasias, que por vezes revelam o que está no íntimo de cada um; fogem de Deus, ao se jogarem nos braços de Momo, e dos seus seguidores; fogem do próximo, quando o outro é encarado muitas vezes como um objeto de prazer, ou uma companhia agradável que será descartada ao final do baile. Em meio às fugas, as pessoas se refugiam na folia, em acampamentos, entre parentes e amigos.

Há pessoas que, ao correrem atrás dos trios elétricos e blocos carnavalescos, estão na verdade correndo para longe do seu cotidiano, fugindo de sua rotina maçante e sem graça, buscando a alegria que não desfrutam diariamente. Correm atrás de uma alegria que não sobrevive à quarta-feira de cinzas, e que muitas vezes é interrompida bruscamente pela violência, não apenas urbana, mas, lamentavelmente, também pela violência familiar.

Há pessoas que, ao irem a um acampamento cristão, buscam a intimidade e a comunhão – com Deus e com o próximo – que gostariam de experimentar durante todos os dias do ano, e não apenas em um feriado. Na realidade, fogem, talvez, da superficialidade de uma religiosidade dominical, de cultos cheios de pessoas vazias, onde a Palavra de Deus não é mais estudada, explanada, discutida e compreendida, cultos que há muito se tornaram antropocêntricos (centrados no homem) e substituíram o espiritual pelo emocional.

Alegria – Onde está a sua? A questão é a jornada existencial de cada um durante todo o ano e não somente em um feriado.

O ser humano precisa de uma alegria que não se esgote na quarta-feira de cinzas, nem dependa da folia dos blocos carnavalescos, nem da ilusão das drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. A alegria deve ser encontrada na realização pessoal diária, ao enfrentar e vencer os desafios da vida, ao realizar-se profissionalmente, financeiramente, e emocionalmente.

O ser humano precisa de uma comunhão com Deus, e com o próximo, que não espere o próximo acampamento para acontecer. O cristão e a cristã precisam de uma íntima e profunda comunhão com Deus que passe pelo intelecto e alcance todas as esferas da vida. A alegria do cristão não deve limitar-se à informalidade do retiro, ou acampamento, mas deve ser fruto da reflexão sobre quem somos, e como Deus, sendo quem é, nos amou e salvou.

Alegria deve ser compartilhada através da comunhão experimentada no encontro com Deus, consigo e com o semelhante. Sem máscaras, sem fugas, e encarando a realidade de frente, assumindo os riscos e as responsabilidades do mundo real onde as coisas acontecem, e não na ilusão do carnaval, ou na segurança dos acampamentos.

O Apóstolo Paulo, escrevendo da prisão, ordenou: Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos. (Filipenses 4.4). A alegria está na plena consciência de si mesmo, do próximo e de Deus. Soli Deo Gloriæ!

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[*] O Pastor Alfrêdo Oliveira Silva é Professor do STBNB, da AMESPE, e membro Igreja Batista da Capunga, Recife-PE, Brasil. E-mail: alfredo.oliveiras@gmail.com

Breve Reflexão Sobre o Culto Cristão

Atualmente sob o nome de "culto" tem acontecido coisas esquisitas, por isso faço a breve reflexão abaixo.

O culto não deve ser um show nem um parque de diversões, nem tão pouco a ocasião para o êxtase motivado por mantras.

O culto cristão é o encontro do ser humano pecador, com outros seres humanos que juntos, se aproximam reverentemente de um Deus que é Santíssimo.

O Deus Supremo, Criador dos céus e da terra, através de sua Palavra deixou orientações de como quer ser adorado. O culto cristão precisa ter algumas características bem nítidas: Em espírito e em verdade; racional; com ordem e decência. É assim que a Palavra ensina.

A liturgia deve ser elaborada a partir de uma teologia definida, e um bom exemplo pode ser encontrado em Isaías 6, onde vemos as partes de um culto a Deus exemplificadas no chamado de Isaías: Adoração e louvor (adoramos a Deus pelo que Ele é, e O louvamos pelo que Ele faz),confissão e dedicação, proclamação, e comunhão.

Infelizmente por desconhecimento, desobediência, ou por preferir modismos, muitos têm oferecido fogo estranho no altar do Senhor.

Que Ele tenha misericórdia de nós.

O Evangelho de Jesus Cristo Segundo Lucas

Introdução

Os cristãos reconhecem na Bíblia como única regra de fé e prática. Esse status deve-se à compreensão de que ela foi inspirada, revelada e preservada pelo próprio Deus.

Nas Escrituras Sagradas, encontramos quatro evangelhos que registram a vida terrena de Jesus Cristo, seu nascimento, vida, morte e ressurreição. Esses evangelhos constituem-se em quatro percepções do Evangelho de Jesus Cristo.

Os três primeiros evangelhos são chamados sinóticos em virtude da semelhança que apresentam entre si, e no estudo do Novo Testamento essa matéria é tratada como “O Problema Sinótico”. O nosso foco neste artigo é o Evangelho de Jesus Cristo Segundo Lucas que conforme atesta Carson “é o livro mais longo do Novo Testamento e inclui boa quantidade de informações não encontradas em outros textos.”1. Sem mencionar a beleza e o estilo refinado do autor.

Data, Local e Autor do Evangelho

Datar uma obra antiga é sempre um desafio, e no caso do Evangelho de Jesus Cristo Segundo Lucas, temos os relatos da História da Igreja, que registra o testemunho cristão ao longo dos séculos. “Os períodos considerados possíveis como data do evangelho de Lucas são: 1) 59-63 d.C. e 2) as décadas de 70 ou de 80”2 Essa variação quanto à data deve-se as diferentes percepções do problema sinótico, que contemplam as relações entre este evangelho e os demais sinóticos, especialmente o de Marcos.

Para exemplificar a relação entre Lucas-Marcos, apresentamos o quadro contido no livro Teologia do Novo Testamento3:

A. Novo Material
B. Material de Marcos
1. Lc 1,1-4, 30
2.
Lc 4,31-34 = Mc 1,21-29
3.Lc 5,1-11
4.
Lc 5,12-6, 19 = Mc 1,40-3,19
5. Lc 6,20-8,3
6.
Lc 8,4-9,50 = Mc 4,1-25; 3,31-35; 4,35-6,44; 8,27-9,40
7. Lc 9,51-18,14
8.
Lc 18, 15-43 = Mc 10,13-52
9. Lc 19,1-28
10.
Lc 19,29-38 = Mc 11,1-10
11.
Lc 19,45-22,13 = Mc 11,15-14,16
12. Lc 22,14-24

Entre os possíveis locais de composição menciona-se Roma, Acaia, Éfeso e Cesaréia. “Esse evangelho, com suas designações pormenorizadas de locais da Palestina, parecia ter em mente leitores não familiarizados com aquela terra. Antioquia, Acaia e Éfeso são destinações possíveis”4
O local de destino relaciona-se ao endereço de Teófilo que não é explicitado.

Se considerarmos apenas as evidências internas, os Evangelhos, inclusive o terceiro, são anônimos. Isto é, não trazem indicação de autoria. Mas, o testemunho cristão primitivo associa esse evangelho a Lucas, bem como o livro de Atos, igualmente endereçado a Teófilo.
Abordando a autoria, Carson registra o testemunho do herege Marcião, perto do fim do século II, que embora não seja referência doutrinária, nada desabona o seu testemunho quanto à datação da obra. Outros testemunhos como o do Cânon Muratoriano, de . Irineu e Tertuliano que dão como certa a autoria lucana do terceiro evangelho5

Cullmann chama a atenção para a apresentação que aponta para uma pessoa metódica que criteriosamente organizou sua obra, fazendo uso de termos clássicos ao contrário dos barbarismos e neologismos dos outros evangelistas6.

Enfoques...

O Dr. John Barry Dyer ao apresentar o tema do trimestre na Revista Atitude7 do segundo trimestre de 2007 apresenta as ênfases do Evangelho Segundo Lucas, assim distribuídas: Jesus, o perfeito ser humano; Jesus e o sofrimento humano; Jesus e os perdidos; Parábolas e milagres; Jesus, vitorioso sobre a morte; A exaltação de Jesus e o Espírito Santo.

O Dr. Dyer destaca a identificação de Jesus Cristo com o ser humano em toda a sua complexidade. Essa abordagem deve ser bem refletida, especialmente em um contexto cultural, como o brasileiro, em que para muitos a figura percebida como Jesus Cristo está desencarnada do dia a dia das pessoas, inclusive dos cristãos. Lucas apresenta-nos não apenas uma tema abstrato para reflexão, ou um Jesus para menções litúrgicas, mas um ser humano que com os humanos está identificado. Toda forma desumana, e desumanizadora de existir, é uma afronta a Jesus Cristo,e uma afronta ao Evangelho.

Outro enfoque que deve ser resgatado no estudo do terceiro evangelho é a ênfase missionária, e a preocupação de Deus com a raça humana. O Dr. Timóteo Carriker referindo-se aos livros de Lucas-Atos, assevera “a apresentação mais clara da missão universal da igreja em todo o Novo Testamento.”8

Carriker lembra que em Lucas, Jesus Cristo não é apresentado como um descendente de Abraão, mas como um descendente de Adão (Lucas 3.23-38), e logo irmão de todos os seres humanos. Outra contribuição relevante é a demonstração de que Jesus Cristo quebrou várias barreiras9.

Geográficas (4.31, 38, 42, 43, 44)
Sociais: fariseu (7.36; 11.37; 14.1), mulher pecadora (7.36-50), publicanos (5.27-32), coletor de impostos (19.1-10), pobres e oprimidos (4.18; 7.41-43; 11.5-8), ricos , mulheres.
Culturais e religiosas: samaritanos (10.29-37), leprosos (17.11-19), centurião romano (7.9),

A ênfase missionária está presente também no final do evangelho (24.48) onde os existe a afirmação do ser testemunha. Em sua obra Lucas expõe sua metodologia (1.1-4) ele utilizou três fontes: várias narrações compostas antes dele, informações colhidas junto a testemunhas oculares, e a tradição oral das pregações apostólicas.10 Todas essas fontes colaboraram para que o testemunho do Evangelho de Jesus Cristo atravessasse os séculos.

Desafios Para o Homem Moderno

O Evangelho Segundo Lucas apresenta vários desafios para a atualidade, entre eles mencionamos.

A utilização da inteligência dada por Deus. No primeiro capítulo Lucas afirma que existiam outros relatos, e que ele resolveu pesquisar e escrever um relato cuidadoso e em ordem para o Exmo. Teófilo. Nesses dias em que a mediocridade e o misticismo cego têm ocupado lugar na religiosidade evangélica, convém lembrar que Deus nos fez seres pensantes e que a nossa inteligência e racionalidade devem ser usadas inclusive na adoração.

A quebra de barreiras – Ao quebrar as barreiras Jesus desfez todas as distâncias existentes entre os segmentos sociais dos seus dias. Em uma sociedade cheia de preconceitos e discriminação, os cristão precisam agir fraternamente uns com os outros, e com o próximo, e também com os não batizados.

Que o Espírito Santo de Deus ilumine o nosso espírito par a que estudo do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas, nos ajude a amadurecer e viver a cada dia a fé cristã. Amém!

* O Pr. Alfrêdo Oliveira Silva é natural de Feira de Santana – Bahia, casado com a Professora Lídia Souto de Moraes Oliveira Silva; e pai de Anália Moraes Oliveira. É Bacharel em Teologia (com concentração na área Pastoral-Missiológica – 1995), e Mestre em Teologia (com especialização na área Bíblica – Novo Testamento – 1999), pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (STBNB). Atualmente mora em Recife-PE, onde leciona no STBNB e na Academia Memorial de Ensino Superior de Pernambuco (AMESPE), é membro da Coordenadoria de Desenvolvimento Cristão Convenção Batista de Pernambuco (CDCCBPE), e membro da Igreja Batista da Capunga em Recife-PE.

1CARSON, D. A.; MOO, D. J.; MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 123
2Bíblia de Estudo NVI/ organizador geral Kenneth Barker; co-organizadores Donald Burdick... [et al.] São Paulo: Editora Vida, 2003 p. 1717
3 JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento: a pregação de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1977. p. 68
4Bíblia de Estudo NVI Idem p. 1718
5 CARSON idem. p. 125
6CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento. 6ª edição. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1996. p.35
7Revista Atitude, Escola Bíblica Dominical, Ano XV – Abr. Mai. Jun. 2007, p. 5
8CARRIKER, Charles Timothy. Missão Integral. Uma Teologia Bíblica. São Paulo: Editora SEPAL, 1992. p. 201
9CARRIKER, C. Timóteo. Missões Na Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1992. p. 25ss
10CULLMANN, Oscar. idem p.34

Mateus: O Evangelho do Reino

A vida de Jesus Cristo está registrada na história da humanidade de forma inequívoca. Até na forma do mundo ocidental contar o tempo, em antes e depois de Cristo, vemos a profunda influência por Ele exercida.

Nas Escrituras Sagradas, encontramos quatro evangelhos que representam pontos de vistas, a partir dos quais, a vida, morte e ressurreição do Senhor, foram contados. Dentre eles, os três primeiros são chamados sinóticos em virtude da semelhança que apresentam. Neste trimestre, estaremos estudando o Evangelho de Jesus Cristo Segundo Mateus, também conhecido como o Evangelho do Reino.

Data, Local e Autor do Evangelho

Para entendermos melhor qualquer texto, convém uma referência aos seus aspectos bibliográficos.

Com relação ao Evangelho segundo Mateus, existe um consenso estabelecido desde os pais apostólicos, que ele teria sido escrito “... antes de 70, com maior probabilidade durante os anos 60”.1 Posteriormente, até quando esta data foi questionada, o Evangelho continuou situado dentro do primeiro século.

Sendo escrito no ano 60 dC, ele pode ter seu ambiente em Jerusalém, ou outra cidade da Palestina. Se a exemplo de Cullmann,2 preferirmos uma data depois de 70, ele propõe 80, fica difícil indicar um local preciso como ele mesmo admite3.

Quanto à autoria, apesar das divergências entre os estudiosos – principalmente quanto ao problema sinótico – existem fortes indicações que ligam o texto do Evangelho a Mateus, o apóstolo. Sem dúvida o escritor era alguém que conhecia as línguas grega e semítica, como pode ser inferido a partir da leitura.

Enfoques do Trimestre

Durante este trimestre estaremos enfatizando que a promessa do Messias contida no Antigo Testamento encontrou seu cumprimento em Jesus, o Filho de Davi. Esta ênfase está escudada no próprio texto. “O autor se refere à Escritura pelo menos em 130 passagens; destas, 43 são citações precisas... Suas citações da Escritura são feitas à maneira judaica, respeitando às vezes até a letra dos textos.”4 Isso demonstra a intimidade que ele tinha com o Antigo Testamento, do qual se revela profundo conhecedor.

O Messias de Deus veio, e o Seu Reino estabeleceu. Os discípulos somos participantes deste Reino, que em Mateus é trinta e uma vezes chamado de Reino dos Céus, contra quatro vezes para Reino de Deus. Esta forma de chamar o Reino é possivelmente para evitar a menção ao nome do Senhor, tão cara aos judeus, a quem o Evangelho era dirigido em princípio.

Desafios Para o Homem Moderno

O Evangelho, segundo Mateus, nos desafia a uma vida inserida no Reino de Deus. Essa inserção, nos faz viver os ensinos de Jesus Cristo neste mundo de forma a produzir nele transformações.
As transformações a serem produzidas no mundo, são experimentadas pelo discípulo, e pela Igreja. A forma de pensar, agir, e ver as coisas passam a ser determinadas pelos padrões éticos ensinados por Jesus, e por Ele demonstrados.

O amor não deve ser apenas um sentimento, ele passa a ser motivação e aferidor do nosso procedimento.

* O Pr. Alfrêdo Oliveira Silva é natural de Feira de Santana – Bahia, casado com a Professora Lídia Souto de Moraes Oliveira Silva e pai de Anália Moraes Oliveira; Bacharel em Teologia (com concentração na área Pastoral-Missiológica, 1995), Mestre em Teologia (com especialização na área Bíblica – Novo Testamento, 1999), pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil. Atualmente é Professor no STBNB (Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil) e na AMESPE (Academia Memorial de Ensino Superior de Pernambuco). Leciona várias disciplinas, entre elas: Teologia dos Princípios Batistas, Teologia Bíblica do NT, Introdução Bíblica, Novo Testamento, Exegese Bíblica do NT, Fundamentos Evangelização e Missões Governo da Igreja.

1 D. A. CARSON; Douglas J. MOO; Leon MORRIS. Introdução ao Novo Testamento. Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 90.
2 Oscar CULLMANN. A Formação do Novo Testamento. 6ª edição. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1996. p.27
3 Oscar CULLMANN idem.
4 LEITURA do Evangelho de Mateus. Vários autores. Tradução Benoni Lemos. São Paulo: Edições Paulinas, 1985. Cadernos Bíblicos – 12. p.17

Deus em Tudo e em Lugar Nenhum

Alfrêdo Oliveira[1]

Vez por outra acompanhamos na imprensa nacional, em alguns artigos, e pela Internet, críticas à utilização da motivação religiosa – seja o nome de Deus, de Jesus Cristo, ou de adesivos com mensagens cristãs – em tudo. Desde o atleta que é associado a alguma igreja, e quer divulgar a sua fé, até ao uso de adesivos que parecem invocar proteção divina. Antes de reagirmos, precisamos nos perguntar se as críticas procedem, e se indicam uma banalização da fé através da massificação do nome de Deus, como se ele fosse um amuleto.

Temos o direito de exercitar a nossa fé, e de divulgar a nossa mensagem a todos os brasileiros e brasileiras; defendemos há séculos a liberdade religiosa e a separação entre a igreja e o estado. É fácil detectarmos em sociedades não-cristãs a violação destes princípios que nos são tão caros, e que se revelam em sociedades geralmente autoritárias, e autodenominadas teocráticas: a privação da liberdade de culto, de expressão, e a intervenção da religião no estado. Precisamos usar o mesmo peso (Dt. 25.13), e a mesma medida (Lc. 6.38) ao avaliarmos a nossa inserção na sociedade, e a forma como exercitamos e divulgamos a nossa fé. Não devemos tolher a liberdade religiosa de quem quer que seja, por mais que discordemos da religião praticada. Não devemos usar nossa influência para impor a não cristãos em locais públicos, símbolos que são significativos apenas para os cristãos. Os símbolos podem, e devem ser usados por aqueles para os quais eles têm valor.

Deus em tudo e em lugar nenhum, resume a idéia do nome de Deus usado sem nenhum critério ou finalidade, apenas para constar. Atualmente o nome de Deus aparece desde a Constituição Federal até ao vidro traseiro do transporte alternativo, mas, o fato é que não ocupa lugar no coração das pessoas. Testemunhemos o Evangelho usando os recursos disponíveis, mas não ajamos de forma proselitista, e em alguns casos até agredindo a fé de outras pessoas. Não façamos aos outros o que não queremos que nos façam.

Antes de reagirmos às críticas que são feitas a um cristianismo que tem se revelado nominal e festivo, precisamos, a exemplo do que acontece na celebração da Ceia do Senhor, procedermos a um auto-exame e verificarmos se de fato algumas das críticas não têm fundamento, e se Deus, apesar de estar em tudo, não está ocupando lugar nenhum, e está tendo seu nome usado indevidamente.

[1] Membro da Igreja Batista da Capunga (Recife-PE); Pastor Batista há onze anos; casado com a Prof. Lídia Moraes Oliveira e pai de Anália Moraes Oliveira. O Pastor Alfrêdo é membro da CDC-CBPE (Coordenadoria de Desenvolvimento Cristão da Convenção Batista de Pernambuco); Professor do STBNB (Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil) e da AMESPE (Academia Memorial de Ensino Superior de Pernambuco); Bacharel e Mestre em Teologia. Texto publicado originalmente no Jornal “O Batista Pernambucano em 2003.

A Literatura Apocalíptica

A Literatura Apocalíptica é um gênero literário que encontra representantes tanto na literatura canônica, quanto fora dela.

Na literatura canônica, destaca-se Daniel no Antigo Testamento; e o Apocalipse de João no Novo. Naturalmente, existem outros textos com características nitidamente apocalípticas como mencionaremos na seqüência deste trabalho.

Na literatura extra canônica existem vários exemplos do gênero, citamos: O Apocalipse de Baruc, o Livro dos Jubileus, os Oráculos Sibilinos, os Salmos de Salomão, a Assunção de Moisés, o Apocalipse de Enoque, a Vida de Adão e Eva, o Apocalipse de Abraão, o Apocalipse de Pedro, o Apocalipse de Paulo, o Apocalipse de Tomé, e o Pastor de Hermas.

A literatura apocalíptica distingue-se da profecia por vários aspectos, entre eles mencionamos: o caráter esotérico, o sofrimento dos santos aliado aà esperança de libertação final mediante intervenção divina, grande julgamento intervindo na história, a vinda do futuro não como conseqüência do presente, e a visão dos ímpios como adversários de Deus. Outras características são: conflito cósmico, combate entre dois adversários fortes, relato em forma de visão, e atribuição de autoria a um famoso personagem do passado.

1.1 Origens do Gênero Apocalíptico

“A literatura apocalíptica foi o resultado de uma esperança invencível e indestrutível que tomou conta do coração do povo de Deus, em época de crise.” [1]

Se fizéssemos uma vasta pesquisa nos exemplos citados, inclusive entre os não canônicos, perceberíamos quanto a literatura apocalíptica se faz presente como fator gerador de esperança entre aqueles que passam dificuldades.

No ano 586 aC.C., Jerusalém havia sido destruída, e as elites israelitas estavam exiladas; Neste contexto surge um movimento reformador com duas tendências, que são antecessoras daquele que ficou designado como apocalíptico.

A primeira foi dirigida pelo grupo sacerdotal sadoquita, de tendência hierocrática, seu projeto era a reconstrução do Templo e do culto, como meios de restauração do povo. Sua contribuição para o movimento apocalíptico, e o gênero literário que ele criou, foi uma simbologia que se contrapunha ao mundo imperial persa, e uma linguaguem bem peculiar. Essa simbologia tornou-se uma das características mais evidentes do gênero apocalíptico.

A segunda, caracterizada pelo profetismo popular, baseava-se na escatologia apocalíptica do Dêutero-Isaías, e visava a reconstrução do povo sem necessariamente reconstruir as estruturas. O movimento apocalitííptico é a continuação histórica desta tendência.

Por volta de 90 d.C., a Igreja cristã começou a sofrer perseguição de forma mais intensa por parte do Império Romano. Uma vez mais, em uma situação de crise fez-se uso do gênero apocalíptico para confortar o povo, e assegurar-lhe a esperança da intervenção divina em seu favor.

Como podemos observar, a Literatura Apocalíptica surgiu como uma resposta, uma reafirmação da certeza de que apesar das dificuldades momentâneas, no final, Deus conduziria seu povo à vitória; e ainda, da necessidade de divulgar as mensagens de Javé por meio de símbolos, uma vez que o Seu povo se encontrava em perigo, o que se tornou uma espécie de marca registrada do gênero.

1.2 A Apocalíptica no Antigo Testamento

No Antigo Testamento, encontramos alguns representantes deste gênero, dentre eles destaca-se - até por ser o maior - Daniel, cujo “autor reviu a história da época do exílio ao seu momento presente. Ele pretendia confortar e encorajar seu povo (...) o próximo passo só poderia ser a intervenção pessoal de Deus em seu favor.”[2] O que indica a apocalipticidade do texto.

O encorajamento ao povo tão necessário em uma hora de crise, contribuiía para enfatizar a idéia do remanescente fiel, bem como nutrir a esperança messiânica; o que é perceptível mais adiante, quando no tempo do Novo Testamento alguns nutriam expectativas messiânicas em relação a Cristo. Convém esclarecer, que esse messianismo presente naquela região, carregava consigo fortes conotações políticas.

1.3 A Apocalíptica no Novo Testamento

No Novo Testamento encontramos o maior, e mais típico representante deste gênero - exceção feita aà questão da autoria que não é atribuída a um distante personagem do passado, mas ao Apóstolo João - O Apocalipse de João, que retrata a perseguição da Igreja, e a sua vitória associada à do seu Mestre que ressuscitou.

Outros textos, com indicações deste gênero no Novo Testamento, são: Marcos 13; Mateus 24-25; Lucas 21.5-36; 1 Tessalonicenses, especialmente 4.13-5.11; 1 Coríntios 15; Gálatas 1; Romanos 1-8; 2 Tessalonicenses 2.1-12; Efésios 6.10-20; Judas.

Como constatamos pela exposição acima, o gênero literário apocalíptico, tem representantes também fora das fronteiras canônicas; e, à época em que surgiu o Cristianismo, já era conhecido; eventualmente, a Igreja cristã fez uso dele para conservar e propagar a sua mensagem, quando os poderes dominantes a ela se opuseram.

Para os cristãos - como para os judeus havia sido no passado, e de certa forma ainda o era no primeiro século - a apocalíptica foi uma forma de resistir às dominações que se impunham, ao tempo em que as forças para resistir eram renovadas.

Isso nos conduz a uma reflexão sobre o momento presente, e suas dificuldades; bem como sobre o grande desafio para a Igreja, sobre como prosseguir em sua caminhada rumo a eternidade apesar das grandes dificuldades que ela enfrenta às vesperasvésperas das comemorações do jubileu do nascimento de Jesus Cristo.

Comemoramos dois mil anos do nascimento de Cristo, com o Cristianismo dividido em três grandes ramos - católico, ortodoxo e protestante - juntos, seus fiéis espalham-se por metade do planeta. Se analisados individualmente, observaremos subdivisões - igrejas nacionais, denominações, ordens, ... - e tanto entre elas, quanto entre os ramos maiores identificaremos perseguidores e perseguidos; aqueles que em nome da fé se armam, lutam e matam apesar de cristãos; como é o caso do conflito entre o Exército Republicano Irlandês, formado por católicos, e o governo britânico da Irlanda do Norte, de orientação Anglicana.

Encontraremos ainda, aqueles que lutam pela sua sobrevivência como cristãos em meio a outras religiões, como é o caso dos cristãos que residem em países árabes. Esses últimos, podem a exemplo dos primeiros cristãos, encontrar na literatura apocalíptica esperança para prosseguir em sua caminhada, apesar dos graves problemas e dificuldades que enfrentam como cidadãos, nas sociedades em que estão inseridas as suas igrejas.

[1] SANTOS, João Ferreira - A Mensagem do Apocalipse Hoje - Conferência nº 10; Recife, 1996. p.2
[2] GABEL, John B.; WHEELER, Charles B. - A Bíblia Como Literatura, uma introdução - p.124.

Boas Férias! Feliz Natal!

Boas Férias! Feliz Natal! Estas são duas das expressões mais usadas ao final de cada ano, e são uma tentativa de externar o desejo por dias melhores entre os seres humanos.

Boas Férias! Esta é a época em que vários estudantes estão terminando o ano, ou semestre letivo, e planejam descansar um pouco, passear, desligar-se das atividades acadêmicas. Alguns estão na correria do vestibular, desfrutando a alegria da iminente aprovação, ou as preocupações do retorno ao cursinho.

Boas Férias também para os trabalhadores, que após um ano de atividades e lutas podem descansar e, quem sabe, aproveitar o décimo terceiro para fazer investimentos, novas aquisições ou saldar dívidas. Alguns vêem nesta época a possibilidade de um trabalho temporário para reforçar a renda, ou quem sabe tentar uma contratação definitiva no novo ano.

Entretanto, nem todos tiram férias: pais e mães, filhos e filhas, irmãos e irmãs, esposos e esposas... embora muitas vezes em férias de outras atividades, e até geograficamente distantes, eles e elas não deixam de exercer os papéis familiares. Infelizmente existem famílias cujos participantes simplesmente as abandonam, o que seria matéria para outro artigo.

Mas, não é apenas da família que não se deve tirar férias. O cristão não tira férias! Em algumas ocasiões, viagens são feitas, e por estar em outra cidade, estado ou país, deixa-se de freqüentar a Igreja da qual se é membro, mas não é possível ao cristão tirar férias do cristianismo. Ele continua sendo cristão, onde quer que esteja, servindo ao Senhor e obedecendo a Sua Palavra através do testemunho e da convivência com o semelhante.

Há uma outra expressão: Feliz Natal! Esta frase é repetida inúmeras vezes, e de forma por vezes inconseqüente. O que significa de fato Feliz Natal?

Diante da mídia tem-se a impressão que para alguém ter um feliz natal, precisa consumir muito, geralmente comprar o que não precisa com o dinheiro que não tem. Olhando a decoração de boa parte do comércio, e de algumas casas – inclusive de cristãos – esta impressão é reforçada pela figura do Papai Noel, com seus muitos presentes que dificilmente chegarão à casa da maioria dos brasileiros e brasileiras.

O natal como descrito acima não pode ser feliz. Primeiro, porque a condição da maior parte do nosso povo não possibilita saciar a sede consumista, o que até é feito, muitas vezes à custa de prestações que alcançam o natal seguinte. Segundo, porque a alegria do natal só pode ser compreendida por quem vê a humilde manjedoura, e percebe sobre ela a sombra da cruz, e nos olhos do menino a serenidade de Deus, mais tarde, ao contemplar o crucificado, percebe em seu olhar a pureza e inocência da criança, que sofre pela crueldade dos humanos.

O natal só é feliz quando se adquire a percepção do Emanuel, Deus conosco. Em Cristo, Deus se identificou com a humanidade, e mais precisamente com aqueles, e aquelas, que não podem, pelos padrões do nosso tempo, desfrutar um feliz natal.

Um feliz natal não depende de presentes, velas, festão, peru, farta ceia, embora todas essas coisas sejam desejáveis. Um feliz natal depende da acolhida que é dada à presença de Jesus Cristo em nossa história, e de como essa acolhida influencia as relações humanas.

Para que haja um feliz natal para todos e todas, os cristãos não podem tirar férias do Cristianismo, nem de Cristo. Através de nós, a presença de Cristo deve tornar-se cada vez mais real e perceptível entre o nosso povo.
[1] Esse artigo foi publicado inicialmente no Jornal Batista Pernambucano, dezembro de 2007
[2]O Pastor Alfrêdo Oliveira Silva é Professor do STBNB e da AMESPE, membro da Igreja Batista da Capunga, Recife-PE, Brasil. E-mail: alfredo.oliveiras@globo.com Blog: http://alfredooliveira.zoomblog.com/

Marcas da Vida de Um Jovem I

Pr. Alfrêdo Oliveira[1]

Todos carregam marcas e cicatrizes e, idealmente, vivem a vida a partir do aprendizado que as marcas e cicatrizes produziram. Algumas marcas trazem boas recordações, outras não.

As Escrituras registram marcas na vida do jovem Saulo de Tarso, marcas que ele carregou por toda a sua vida. Os textos: Atos 7.54-8.1 NVI
54 Ouvindo isso, ficavam furiosos e rangiam os dentes contra ele. 55 Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus, 56 e disse: "Vejo o céu aberto e o Filho do homem de pé à direita de Deus". 57 Mas eles taparam os ouvidos e, gritando em alta voz, lançaram-se todos juntos contra ele, 58 arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. 59 Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito". 60 Então caiu de joelhos e bradou: "Senhor, não os consideres culpados deste pecado". E, dizendo isso, adormeceu. Atos 8.1 E Saulo estava ali, consentindo na morte de Estêvão. Naquela ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria

O texto narra o martírio de Estevão, um dos ministros/diáconos escolhidos para servir às mesas. O apedrejamento fala por si só. Lucas, ao escrever Atos descreve Estevão como homem justo:
Atos 6.3 Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria...
Atos 6.5 Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo,...

Estevão foi apedrejado! Há na cena outro personagem, que aqui aparece como coadjuvante – o jovem Saulo, mencionado em dois momentos neste texto:
At. 7.58 ... As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo.
At.8.1 E Saulo estava ali, consentindo na morte de Estêvão...
O apedrejamento marcou profundamente o jovem Saulo, e deixou marcas que devem ser evitadas.

OMISSÃO UMA MARCA PERIGOSA
Percebe-se a omissão de Saulo quando a Bíblia diz: At. 7.58 ... As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Guardando os mantos, Saulo se omitiu, o mesmo Saulo que se revelou um líder na perseguição, e depois de convertido um dos maiores líderes do Cristianismo.

O texto narra que após ouvir o discurso de Estevão, o Sinédrio, e o povo, ficaram furiosos. A fúria foi tamanha que eles gritaram fortemente, arrastaram e apedrejaram Estevão (v.57,58). Esta cena marcou os presentes, e a vida do jovem Saulo.

A omissão de Saulo deixou marcas profundas em sua vida, décadas depois essa experiência era lembrada. At.22.20 E quando foi derramado o sangue de tua testemunha Estêvão, eu estava lá, dando minha aprovação e cuidando das roupas dos que o matavam

Algumas das conseqüências das decisões tomadas na juventude serão lembradas décadas depois. As decisões precisam ser tomadas, a omissão evitada. Quando nada é decidido, uma decisão foi tomada – a omissão. Nenhum jovem deve omitir-se diante das situações da vida.

Há um texto que ilustra bem a omissão e suas conseqüências...
(Martin Niemöller[2]pastor protestante alemão, sobre os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial)
"Primeiro, eles vieram atrás dos comunistas.
E eu não protestei, porque não era comunista.
Depois, eles vieram pelos socialistas
e eu não disse nada, porque não era socialista.
Mais tarde, eles vieram atrás dos líderes sindicais.
E eu calei, porque não era líder sindical.
Então, foi a vez dos judeus.
E eu permaneci em silêncio porque não era judeu.
Finalmente, vieram me buscar.
E já não havia ninguém para protestar."

Diante dos apedrejamentos produzidos pela sociedade contemporânea, o jovem cristão não pode ser omisso. Todos os dias acontecem apedrejamentos. Qual tem sido a postura da juventude cristã e batista?


[1] O Pastor Alfrêdo Oliveira Silva é Professor do STBNB, AMESPE, SEC, e membro da Igreja Batista da Capunga,Recife-PE, Brasil
[2] http://escutazedicasdeleitura01.blog.com/ às 23h01m do dia 09 Out. 2006
Um dos grandes desafios do magistério, especialmente no começo da vida acadêmica do aluno, é fazê-lo entender a necessidade de aprender e “Somente o professor que aprende bem e continuadamente, pode fazer o aluno aprender”. Não existe mestre melhor do que o exemplo.

Além disso, a legítima capacitação não prescinde a uma atualização constante. O que só é possível pela renovação dos conhecimentos através da reciclagem por isso “Ninguém mais do que o professor, para manter-se profissional, precisa todo dia estudar”, mais do que uma necessidade é uma exigência do mundo globalizado onde vivemos e lecionamos.

No caso específico da educação teológica, o desafio é ainda maior uma vez que o professor precisa estar familiarizado com os teólogos e pensadores do passado, e manter-se em sintonia com o presente, para desta forma ocupar o seu lugar na sociedade pós-moderna como representante legítimo da educação teológica, que anda tão desgastada atualmente. “Para que a educação teológica no Brasil possa encontrar seu rumo, precisamos resgatar a imagem do professor de teologia de nossos seminários”.

“Enquanto o professor se constituir a prova de que a cidadania brasileira não existe, não há o que esperar das escolas, especialmente de nossos Seminários”. Lamentavelmente o homem – e o professor não se constitui em exceção – enquanto produto do meio, anda pessimista quanto a sua função e atuação nos dias de hoje. Esse pessimismo é gerado pelas grandes desigualdades sociais, o que é perceptível também no meio seminarial. Tais diferenças acabam por influir na auto-estima, o que sofre um agravamento se considerarmos o abismo que separa o que se exige do professor, do que lhe é oferecido a título de remuneração. “A remuneração e capacitação do pessoal docente, deve ser a primeira área de aplicação dos recursos da educação”. Quando isso não ocorre o ensino deixa de ser a prioridade da escola, descaracterizando-a.

Um outro fator que obstrue o desenvolvimento do professor é a forma como o ensino é dirigido. “A administração do ensino deve ser feita de maneira participativa, evoluindo daí para um orçamento participativo”. O grande problema é que a instituição de ensino é dirigida de forma autoritária, a variante é a forma oligárquica. Nas duas possibilidades o orçamento, longe de ser participativo, é algo distante quando não misterioso tanto para o discente quanto para o docente. O que acaba gerando problemas de credibilidade para quem administra, e de qualidade para o ensino, uma vez que os mais afetados – e que deveriam ter maior participação – professores e alunos não têm muitas vezes nem voz, nem vez.

Não ter participação, é meio caminho para o desinteresse que acaba gerando a mediocridade na educação, um dos grandes problemas do nosso país. “Não é possível realizar uma educação de qualidade, sem os devidos investimentos nos professores, de outro lado, os meros investimentos não garantem a qualidade, pois a qualidade nasce da qualidade. Sem qualidade de vida, não há qualidade de ensino. Sem remuneração condigna, não há qualidade de vida. Sem qualidade de vida, não há comprometimento efetivo, com a devida dedicação de tempo ao ensino”. Sem realização pessoal não há professor ideal! Desestimulado o professor não contribui para a formação de melhores cidadãos.

É preciso capacitar o professor para que ele desempenhe bem sua missão, e dê a sua parcela de contribuição na construção de uma sociedade mais digna “O plano de capacitação permanente dos profissionais de educação, esbarra no esforço dos empresários da educação, para quebrar o que denominam corporativismo docente, esquecendo-se que é da interação entre os professores que nasce a troca de experiência, em que, em geral, todos aprendem”. É o princípio vigente nas batalhas, é preciso dividir par conquistar! Os donos da educação não são os proprietários do saber, eles sabem que não sabem por isso temem a união dos professores que naturalmente contraria os interesses do capital, que não poucas vezes não coincidem com os do ensino.

Unidos pelo ideal de uma educação libertadora os professores podem dar sua parcela de contribuição à escola. “A participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político-pedagógico da escola, bem como a participação da comunidade escolar no conselho administrativo da escola, é fundamentalmente necessária à gestão democrática do ensino, visto que, por mais eficiente que a direção da escola seja, não poderá pensar pelos professores, como não poderá produzir os conhecimentos que o professor transmitirá em sala de aula”.

Finalizando, o professor ideal não surge do nada, ele surge quando as condições e oportunidades lhe propiciam o amadurecimento no tempo próprio. “Assim como, a árvore que produz frutos, no reino vegetal, bem como o animal que gera e cria seus filhotes no reino animal, precisam ser devidamente nutridos, o professor, para produzir o fruto que as escolas vendem como conhecimento, precisa ser devidamente nutrido, não somente de bens materiais, mas de bens espirituais, como respeito, consideração e valorização da dignidade humana.” Quando este dia chegar estaremos mais próximos de um a sociedade mais justa, de uma escola mais relevante, e de um professor ideal.

(Escrito como uma das atividades da Disciplina Metodologia do Ensino Superior, Mestrado em Teologia no STBNB, Recife, Janeiro de 1998)